Publicado em 28-03-2018 as 10:25:15
O fato de não precisar ter uma empresa para agir de forma empreendedora, não significa que isto seja algo indesejável. Pelo contrário, dependendo de suas intenções é altamente interessante e até mesmo necessário ter o famoso CNPJ.
Veja algumas questões que passam pela cabeça dos psicólogos:
1) O que é um CNPJ? (Sim, muita gente não sabe)
Um CNPJ é uma espécie de CPF, só que em vez de representar uma pessoa, representa uma empresa. Muitas atividades comerciais só podem ser realizadas com a existência de um CNPJ. Por exemplo, com clientes de consultoria que exigem a emissão de nota fiscal para os serviços, e para isto necessariamente é preciso ter um CNPJ.
Para atuar como psicólogo, na atividade tradicional da psicoterapia, você não precisa ter um CNPJ, mas em alguns casos, pode ser interessante e até vantajoso.
Quando cria um CNPJ, você oficialmente se torna um empresário, mas entenda que isto não significa ter uma empresa nos moldes tradicionais. Você não precisa ter uma sala, uma secretária, um telefone específico, nem mesmo fazer cartões se não quiser. Tudo o que você precisa é de um endereço, e supondo que você não more debaixo da ponte, este problema está resolvido.
Muita gente confunde as coisas, e acha que abrir uma empresa é ter todo este custo.
Até seria o caso, se você trabalhasse com produtos físicos. Mas estamos falando de atividades intelectuais, típicas de um psicólogo. Logo, a sede de sua empresa pode ser o seu consultório ou até mesmo a sua casa.
2) Como psicólogo, Quando vale a pena ter um CNPJ?
Ter um CNPJ vale a pena quando você quiser prestar serviços a outras empresas ou mesmo atuar com pessoas físicas em grande volume e de forma recorrente.
Veja bem, prego com veemência que os psicólogos devem abrir seus horizontes e parar de achar que tudo o que tem a oferecer é psicoterapia. Psicólogos tem muito mais do que isso para dar ao mundo.
Por exemplo: Palestras, cursos, treinamentos, workshops, seminários, cursos online; todas estas são formas inteligentes e interessantes de mudar a vida das pessoas.
E é aqui que o CNPJ começa a fazer sentido.
Claro, se você vai dar cursos esporadicamente para pessoas físicas em pequeno número, ou eventualmente fazer uma palestra para se divulgar, não há tanta necessidade. Mas se você tem interesse em ampliar o alcance de seu trabalho – o que eu recomendo – oferecendo cursos online, cursos presenciais para grandes turmas, ou trabalhando com outras empresas – treinamentos, palestras – de forma recorrente, o CNPJ vai ajudar muito.
Por quê?
Por que a maioria das empresas com as quais você quiser trabalhar, vai te pedir para emitir nota fiscal. Além disso, vão te achar um pouco “amador” se você não tiver uma empresa formal. Em algumas situações, se não houver a nota fiscal, até a contratação fica prejudicada.
Quando uma empresa te faz um pagamento de, por exemplo, 3 mil reais por um workshop, e deposita isto em sua conta pessoa física, sem que você emita uma nota fiscal, você pode ficar feliz e achar que a vida é bela. Mas nem tudo são flores. O que pode acontecer é que, no futuro, a receita federal, o famoso leão, talvez descubra que aquele “dinheirinho” entrou em sua conta, e queira saber de onde ele veio.
Aí meu caro psicólogo, a conta pode sair cara, já que a tributação para pessoa física costuma ficar acima de 20%, enquanto uma empresa, no sistema Simples, paga em torno de 6%.
Algumas outras vantagens gerais são:
– Conseguir empréstimos a taxas baixas;
– Participar de concorrências públicas;
– Participar de concorrências em empresas;
– Abrir uma conta jurídica no banco e ter algumas vantagens que a pessoa física não tem;
– Ter um diferencial dentre os profissionais de sua área que não tem empresa aberta.
3) Qual o melhor formato de CNPJ a ser criado?
Quando o desespero começar a tomar conta, eis que surge uma solução relativamente simples. Empreender, abrir empresa e começar a economizar em impostos. Sim! O psicólogo pode abrir sua empresa como Empresário Individual, EIRELI ou Limitada e tendo o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) nº 8650-0/03, que compreende as atividades de psicologia e psicanálise.
4) Quanto custa abrir e manter um CNPJ?
Aqui temos duas questões importantes: Custo de abertura do CNPJ e custo de manutenção da empresa.
Falemos de cada um:
· Custo de abertura
Em média, um bom contador vai te cobrar em torno de 1200 reais para abrir uma empresa, mas isto pode variar uns 20% para mais ou para menos.
Aí você me pergunta: Vale a pena pagar um contador, em vez de fazer sozinho?
Na minha opinião, vale. Cada centavo.
Acredite, o Brasil está longe de ser o país menos burocrático do mundo. Abrir uma empresa aqui é um processo cheio de pequenos detalhes e relativamente complexo. São guias, documentos, comprovantes, formulários, e uma miríade de informações capaz de deixar um leigo consideravelmente perdido. Fora que, qualquer bobagem que você fizer, pode gerar retrabalho e muito custo.
Sei que 1200 reais não é uma quantia insignificante, mas mesmo assim, é o caminho mais inteligente e seguro. Entenda: Você deve concentrar sua energia em gerar negócios para sua empresa, deixe o contador cuidar da papelada e burocracia.
· Custo de manutenção
Relembrando o que eu disse ali em cima,sua empresa não precisa ter empregados, a sede pode ser o seu endereço, e o mobiliário ser composto por sua cadeira, mesa e notebook.
Então, em termos de infraestrutura, não há custo adicional. Seu custo será apenas com algumas obrigações acessórias que devem ser pagas, anualmente ou mensalmente, como por exemplo a GPS – Guia de Previdência Social, recolhimentos da prefeitura e outras taxas eventuais.
Aqui novamente a burocracia entra em ação: É preciso acompanhar a empresa para não esquecer de gerar e pagar estas guias nos prazos, evitando multas.
E neste ponto você tem duas escolhas:
– Acompanhar, calcular, emitir e pagar por conta própria, sem a ajuda de um contador.
– Pagar um contador, mensalmente, para cuidar disso.
· Adivinhe qual opção eu recomendo?
A de número dois, e pelo mesmo motivo de sempre: não gaste seu tempo com operacionalidades e burocracia, vá gerar negócios para você. Além disso, as chances de você fazer bobagem gerenciando por conta própria, são bem maiores.
Hoje até existem alguns softwares que te ajudam a acompanhar as obrigações, calcular e pagar as guias, por algo em torno de 50 reais por mês, mas eu ainda prefiro não gastar tempo e massa encefálica com isso.
Mas vamos ao que importa:
Para uma empresa simples e com pouco movimento (Emissão de umas três notas fiscais por mês) o contador vai te cobrar algo em torno de 300 reais mensais( Eu pago 240). Junte isto aos recolhimentos obrigatórios, e chegamos a uns 450 mensais. (Atenção, isto é a realidade do ano de 2015, e pode variar segundo localidade).
Este é o valor aproximado que você vai desembolsar mensalmente para fazer a manutenção básica de sua empresa, mesmo se ela não tiver documentos.
Dificilmente vai passar de 500.
Obviamente isto vai variar segundo o volume de negócios, já que para cada nota fiscal você vai pagar os impostos relativos. Mas neste caso não existe um problema, por que se existe imposto a pagar, é por que houve venda de serviços.
5) Afinal, será que EU devo ter um CNPJ?
- Abrir uma empresa (CNPJ) faz sentido se você quer prestar serviço a outras empresas ou trabalhar com um volume maior de pessoas;
- Ter uma empresa não siginifica pagar aluguel, empregados, móveis e etc… sua empresa pode ser no seu consultório ou na sua casa;
- A modalidade “Instrutoria e Treinamento” é uma das mais adequadas para psicólogos, por se encaixar no Simples e servir para serviços e produtos de desenvolvimento de competências;
- Contratar um contador continua sendo a forma mais segura e inteligente de abrir e fazer a manutenção de sua empresa;
- O custo inicial de abertura varia entre 800 e 1200 reais;
- O custo básico de manutenção gera em torno de 450 reais mês
Mas mesmo assim é possível que você esteja pensando: Abro ou não abro? E se as coisas não derem certo? E se eu arrumar sarna para me coçar? E se…
A pergunta mais importante aqui é:
O que você deseja para seu futuro profissional?
Você quer ficar no consultório e eventualmente fazer alguns pequenos cursos e palestras que você promove por conta própria, ou quer ampliar suas atividades, atender a empresas e organizações diversas, lançar cursos com frequência e desenvolver um “negócio” de maior porte?
Se o último caso faz sentido para você, ter um CNPJ é muito vantajoso. Como eu disse, além de pagar menos impostos, você passa a ser visto com mais seriedade pelos contratantes.
Mas… Para não dar o passo maior que a perna, uma dica bem prática:
Recomendo que você consiga o primeiro negócio que tenha necessidade de um CNPJ, e só depois abra a empresa.
É isto mesmo, primeiro tenha o cliente, depois abra a empresa.
Quando saí de meu último emprego fixo, em 2013, foi exatamente o que fiz.
Através de minha rede de contatos, consegui a oportunidade de apresentar um projeto de capacitação na área de RH a uma empresa de médio porte. Quando eles ligaram anunciando que o projeto foi aprovado, liguei para o contador e abri o CNPJ.
Em 35 dias a empresa estava aberta, e pouco depois do primeiro mês do projeto (Com duração prevista para 4 meses) eu já estava emitindo a primeira nota.
Claro que, depois que você abrir a empresa, o custo de manutenção sempre existirá, independentemente de você ter novos projetos. Mas este, caro psicólogo, é o preço a pagar pelo empreendedorismo.
Ter um CNPJ é uma forma de abrir novos horizontes de atuação e ampliar suas fontes de renda, mas também representa um custo mensal que, embora baixo, pode se tornar inviável caso não as coisas não aconteçam.
Dá um frio da barriga? Dá sim.
Mas se não desse, não seria empreendedorismo.
